sexta-feira, 26 de junho de 2009

Impacto sócio-ambiental da instalaçao do Cirque du Soleil em Olinda-PE*

Sexta-feira, 26 de Junho de 2009

Pernambuco em breve vai receber o Cirque du Soleil para mais um espetáculo. Parece-nos bom, a princípio. Mas...



Estamos em 2009, 25 anos de Cirque du Soleil. O que começou com um grupo de artistas de rua no Quebec (Canadá), em 1984, hoje é um dos maiores espetáculos da Terra! E tamanho é o fascínio por tão grandioso espetáculo, que o Governo do Estado de Pernambuco está fazendo qualquer coisa para garantir a sua vinda. Repete-se o discurso de oferta de emprego, de geração de renda, de mais turismo. Tudo para se explicar. Na verdade, iludir a população local e justificar, em um discurso quase único, os interesses dos abastados que concordam com a vinda do circo a qualquer custo.


Quanto custa 25 anos de existência?


Custa uma árvore? Custa a inacessibilidade da população, inclusive e principalmente a mais carente de uma região, a um espaço de lazer e esporte? Custa dificultar o acesso gratuito ao Museu de Ciências – Espaço Ciência?


Ora! Estamos falando da imposição de um empreendimento privado baseado na cessão de espaços públicos, de estruturas públicas e de instituições públicas. Ou seja, o claro interesse privado acima do público.


Vamos explicar!


A proposta da instalação do Circo, trata-se de uma imposição do Governo do Estado, uma vez que não passou por qualquer instância de discussão democrática, a exemplo do Conselho Estadual de Meio Ambiente - CONSEMA. Colegiado formado por representantes da sociedade civil e poder público, onde são discutidas questões de caráter ambiental. O local foi definido pelos “privilegiados” para instalação do circo, pois trata-se de uma área considerada por seus atributos ambientais, como Parque Metropolitano, o Parque de Salgadinho.



Além disso, gostaríamos de informar aos senhores alguns prejuízos socioambientais ocasionados com as obras de instalação do Circo Du Soleil, até o momento:


· Eliminação do campo de futebol, além de quadras localizadas na área do Parque, todos utilizados pela população de Santo Amaro, Ilha do Maruim, Ponte Preta, comunidades estas próximas à área;

· Impermeabilização de grande área de solo natural;
· Previsão de eliminação de vegetação plantada e estabelecida a mais de dez anos no local – como ipês-roxo, coqueiros, sabiá, algodão da praia entre outras;
· Degradação (e em alguns momentos, impossibitação) do acesso ao Espaço Ciência, que desempenha importante papel social, educacional e ambiental para muitos jovens;
· Aumento do risco de acidentes dentro da área do Espaço Ciência, com o trânsito de caminhões (caçamba) e de máquinas pesadas no mesmo local no qual passam visitantes a pé e transitam os ônibus de transporte escolar;
· Segundo levantamento das espécies de aves localizados no Espaço Ciência, realizado em 2008, por pesquisador do grupo Observadores de Aves de Pernambuco, o número dessas aves aumentou, isso em conseqüência das melhorias ambientais observadas dentro do período da última observação feita até a realizada em 2008. Porém, as obras do irco têm afastado diversas dessas aves do local, além de eliminarem locais de alimentação, de pouso e de nidificação.
· As obras do circo desrespeitam os projetos arquitetônicos e paisagísticos concebidos para o local e os propósitos do parque.
· Enfim, as obras do circo afrontam as conquistas do Movimento Ambientalista, diga-se da população pernambucana, quando na década de 1980 impediram que o local se transformasse em um espaço de edificações privadas e o transformaram em um local público para uso público.

Infelizmente, nossos governantes fazem discursos quanto às preocupações com as Mudanças Climáticas e seus efeitos nas cidades litorâneas, mas os órgãos “licenciam” coisas como esta, que eliminam vegetação, impermeabilizam solos.

A Prefeitura do Município de Olinda, uma vez que área em tela fica nesta localidade, diz proteger seu Meio Ambiente, mas permite que a iniciativa privada ocupe áreas verdes, solos nus e espaços de lazer de populações pobres de seu município, esse considerado um dos mais densamente povoados e com baixo índice de área verde.


Fala-se de Programas Sociais como “Governo Presente” para bairros com elevados índices de violência, como o de Santo Amaro, ao tempo que o mesmo poder público estadual autoriza a eliminação de área de lazer e esporte de uso dessa população.


Fala-se em transplantar árvores do local como forma de “salvá-las” e plantar mais mudas para cada árvore destruída. Quem se lembra das árvores da Praça do Marco Zero? (Recife, no bairro antigo). Eram castanholas, que foram arrancadas para serem transplantadas como forma de não destruí-las. Foram transplantadas para uma área defronte à Secretaria de Recursos Hídricos, na Av. Cruz Cabugá. O resultado foi trágico: nenhuma árvore sobreviveu, porém técnicos garantiram o sucesso e uma empresa ganhou dinheiro com isso.


Não se troca árvores por mudas! Árvores estão estabelecidas, levam tempo para isso e já cumprem com suas funções.


Assim, as Entidades Ambientalistas abaixo relacionadas e que fazem parte do Fórum de Entidades Ambientalistas de Pernambuco e Integrantes do Movimento Ambientalista – FEAPE, rogam pela não instalação do Circo Du Soleil na área do Parque de Salgadinho. Que seja escolhida uma nova área, com base em discussoes nas instâncias democráticas relevantes, para a instalação do referido circo, além da recuperação da área e infraestruturas já danificadas.


Gostaríamos de registrar que não temos nada contra o Cirque du Soleil, até o admiramos, uma vez que não são utilizados animais nos espetáculos. Mas temos sim, contra a degradação do Meio Ambiente em detrimento da qualidade de vida do povo pernambucano.



Associacação Ecológica de Pernambuco – ECOS
Associação Pernambucana de Defesa da Natureza – ASPAN
Associação Pernambucana de Engenheiros Florestais – APEEF

*Texto baseado em carta enviada aos diretores do Cirque du Soleil em Québec, no Canadá.

Fonte: http://aspan-pe.blogspot.com/2009/06/impacto-socio-ambiental-da-instalacao.html

Nenhum comentário: